sábado, 22 de novembro de 2008

Relatos

Começei a dar aula de artes há um mês numa escola particular. Mês de novembro. A coordenadora pediu que eu trabalhasse nesse mês o tema da Coinsciencia Negra, e eu logo me empolguei.
Na primeira aula, enquanto as crianças procuravam para recortar das revistas negros brasileiros à meu pedido, uma aluna, uma menina negra, me mostrou a figura de um macaco como se fosse uma pessoa negra. Eu não tive reação, não esperava ouvir isso logo na minha primeira aula, inda mais de uma menina negra! Simplesmente fiz cara de repreensão, e disse que era muito feio o que ela tava dizendo.
Duas semanas depois, essa mesma menina negra (que deve ter 6 anos, pois está no segundo ano do fundamental) virou pra mim no começo da aula, antes mesmo de eu ter passado a proposta daquele dia, e falou "tia, não quero mais desenhar gente negra não", e eu perguntei porque. Ela disse que não sabe desenhar "gente negra", só "gente branca"e eu disse que era a mesma coisa. E pra completar eu disse pra ela que ela é negra, e ela disse " Não tia, eu sou morena", mas eu insisti, disse que não, que ela é negra. E nisso ela começou a perguntar se os outros amiguinhos da sala, inclusive eu, e da professora da turma, que é branca de olhos azuis quem é negro.
Sobre mim disse que sou morena, mas que tô quase lá. Minha pele não é tão escura, e o sangue é bem misturado (como todos por aqui). Mas a alma...! Não posso ouvir um batuque que o sangue já ferve! ai ai ai Sim, no Brasil somos todos mistura, disso todo mundo sabe. O que nem sempre é sabido, é que esse mesmo povo "misturado" tem preconceito contra si próprio. Tem vergonha de dizer que é negro, por que ser negro é sinonimo de uma coisa ruim. O negro é mal visto, e ninguém quer ser mal visto, né. Todo mundo quer ser aceito.

Com essas aulas aprendi mais que ensinei, e agora me sinto mais preparada para no ano que vem fazer um trabalho mais profundo, não só no mês de novembro, mas todos os dias.

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