domingo, 28 de dezembro de 2008

a felicidade a, e, i, ó, ahhhh

Menina , amanhã de manhã
Quando a gente acordar quero te dizer
Que a felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Na hora ninguém escapa
De baixo da cama ninguém se esconde
A felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Menina, ela mete medo
Menina, ela fecha a roda
Menina, não tem saída de cima, de banda ou de lado
Menina, olhe pra frente menina, todo cuidado
Não queira dormir no ponto

Segure o jogo, atenção de manhã
Menina a felicidade
É cheia de praça, é cheia de traça
É cheia de lata, é cheia de graça
Menina, a felicidade
É cheia de pano, é cheia de peno
É cheia de sino, é cheia de sono
Menina, a felicidade é cheia de ano,
É cheia de eno
É cheia de hino, é cheia de onu
Menina, a felicidade
É cheia de an, é cheia de en
É cheia de in, é cheia de on
Menina, a felicidade é cheia de a,
É cheia de é, é cheia de i, é cheia de ó
É cheia de a, é cheia de é,
É cheia de i, é cheia de ó


Menina amanhã de Manhã, de Tom Zé
foto bijuinha thaíza, nossa ida pro Sana

Poema


Eu quero explicar a vocês
O que é ser um palhaço
O que é ser o que eu sou
E fazer isso o que eu faço

Ser palhaço é saber distribuir
Alegria e bom humor
E com esforço contentar
O público espectador

Muita gente diz “Palhaço”
Quando quer xingar alguém
E esse nome pronunciam
Com escárnio e desdém

E ao ouvir esta palavra
Outros sentem até pavor
Como se palhaço fosse
Criatura inferior

Mas de uma coisa fiquem certos
Para ser um bom palhaço
É preciso alma forte
E também nervos de aço

E além de tudo
é preciso ter um grande coração
para sentir isso o que eu sinto
grande amor à profissão

O Palhaço também tem
Suas noites de vigília
Pois lá na sua barraca
Ele tem a sua família

Palhaço, meus amigos,
Não é nenhum repelente
Palhaço não é bicho
Palhaço também é gente

Falo isso em meu nome
E em nome de outros palhaços
Que muitas vezes trabalham
Com a alma em pedaços

Ser palhaço
É saber disfarçar a própria dor
É saber sempre esconder
Que também é sofredor

Porque se o palhaço está sofrendo
Ninguém deve perceber
Pois o Palhaço nem tem
O direito de sofrer

Poema recitado pelo Palhaço Picolino, Autor desconhecido
foto, diz o google que é o palhaço Picolino, qual dos 3 eu não sei...

Árvore Genealógica

Mãe, vou casar!
Jura, meu filho ?! Estou tão feliz ! Quem é a moça ?
Não é moça. Vou casar com um moço. O nome dele é Murilo.
Você falou Murilo... Ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?
Eu falei Murilo. Por que, mãe? Tá acontecendo alguma coisa?
Nada, não... Só minha visão que está um pouco turva. E meu coração, que talvez dê uma parada. No mais, tá tudo ótimo.
Se você tiver algum problema em relação a isto, melhor falar logo...
Problema ? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso.
Você vai ter uma nora. Só que uma nora... Meio macho. Ou um genro meio fêmea. Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea...
E quando eu vou conhecer o meu. A minha... O Murilo ?
Pode chamar ele de Biscoito. É o apelido.
Tá ! Biscoito... Já gostei dele.. Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando o Biscoito vem aqui ?
Por quê ?
Por nada. Só pra eu poder desacordar seu pai com antecedência.
Você acha que o Papai não vai aceitar ?
Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que você achou sua cara-metade. E olha que espetáculo: as duas metade com bigode.
Mãe, que besteira ... Hoje em dia ... Praticamente todos os meus amigos são gays.
Só espero que tenha sobrado algum que não seja... Pra poder apresentar pra tua irmã.
A Bel já tá namorando. A Bel? Namorando ?! Ela não me falou nada... Quem é?
Uma tal de Veruska.
Como ?
Veruska...
Ah !, bom! Que susto! Pensei que você tivesse falado Veruska.
Mãe !!!...
Tá.., tá..., tudo bem... Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto .
Por que não ? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.
Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?
Quando ele era hétero... A Veruska. Que Veruska ? Namorada da Bel...
'Peraí'. A ex-namorada do teu atual namorado... E a atual namorada da tua irmã . Que é minha filha também... Que se chama Bel. É isso? Porque eu me perdi um pouco...
É isso.
Pois é... A Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero.
De quem ?
Da Bel.
Mas ,Logo da Bel ?! Quer dizer então... Que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska ...
Isso.
Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.
Em termos... A criança vai ter duas mães : você e o Biscoito. E dois pais: a Veruska e a Bel. Por aí... Por outro lado, a Bel...,além de mãe, é tia... Ou tio... Porque é tua irmã.
Exato. E ano que vem vamos ter um segundo filho. Aí o Biscoito é que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... Com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.
Só trocar, né ? Agora o óvulo vai ser da Bel. E o ventre da Veruska.
Exato!
Agora eu entendi ! Agora eu realmente entendi...
Entendeu o quê?
Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!
Que swing, mãe ?!!....
É swing, sim ! Uma troca de casais... Com os óvulos e os espermatozóides, uma hora no útero de uma, outra hora no útero de outra...
Mas...
Mas uns tomates! Isso é um bacanal de última geração ! E pior... Com incesto no meio...
A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso...
Sei !!!
... E quando elas quiserem ter filhos... Nós ajudamos.
Quer saber ? No final das contas não entendi mais nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero,o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que...
Que... ?
Fazer árvore genealógica daqui pra frente... vai ser foda.
(Luiz Fernando Veríssimo )

sábado, 27 de dezembro de 2008

Flores não andam em bando, nem em dúzia




Uganda, cubana, ipanamana, baiana, luanda, nada ruanda,
kinshze, manga, banana

Vinha rindo e circulando
Sobre tudo o cobertor
Do teu olhar varreu meus olhos
E do teu olho joio
Uma gota de orvalho
Que era vidro se quebrou
Vivendo em despedace
E o coração coador
Sorriu
Vexado de amargor e se pintou
Com a lama da lagoa pra à toa correr
ê ê ê ê ê
Uganda, cubana, ipanamana, baiana, luanda, nada
ruanda, kinshze, manga, banana

Se for feito de argila
Seis enfeites de darei
Flores não andam em dúzia
Só foi uma que eu robei

Sorriu
Vexado de amargor e se pintou
Com a lama da lagoa coa voa
Ê zuzuê
Ê zum zum zum
Ê zuzuê zum
Uganda, cubana, ipanamana, baiana, luanda, nada
ruanda, kinshze, manga, banana
Solidão anda de muda
Sei pra sempre te amarei
Procurei pôr essas curvas
Quem no Tororó deixei
ê ê ê ê ê
Ê zuzuê
Ê zum zum zum
Ê zuzuê
zum

Argila, Carlinhos Brown

Música de circo

Tombei, tombei, tornei tombar
A brincadeira já vai começar
Oh raia o sol, se põe a lua
Olha o palhaço no meio da rua

-Hoje tem espetáculo?
-Tem sim senhor!
-É as 8 da noite?
-É sim senhor!

-E o palhaço o que que é?
-É ladrão de mulher!

-E o palhaço o que que foi?
-Ladrão de boi!

Olelê seu Tomaz
Vai pra frente e vai pra trás
Olelê Dona Chica
Remexe a canjica
Olelê Conceição
Mexe com a mão
E a moça na janela
Tem cara de penela
E a moça no portão
Tem cara de fogão

Aproveita moçada,
Dois tostão não é nada
E raia o sol se põe a lua
Olha o palhaço no meio da rua
.
.
.

foto: espetáculo do Anjos do Picadeiro 7, na lona Crescer e Viver

eu, farnese e antunes

Areia pra deixar cair
no centro da ampulheta
eu vejo enquanto espero
aquilo que mais quero
o meu amor virá
madrugada lenta
as luzes piscam letras
na janela venta
enquanto o carro vai
areia pra passar
areia pra passar
areia como tempo
através do vidro
cai pelo orifício
revirando o ar
atravessando a praia
maior que um saara
até chegar no mar


Areia, Arnaldo Antunes
Foto: Relógio, de Farnese de Andrade

Não

não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não
não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não não fica triste não fica triste não
fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não fica triste não


na foto: minha sobrinha pentelha que tanto amo

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Júpiter Quadratura Sol


"Determinar
o momento de parar
é a verdadeira questão."
desenho de anne-julie aubry

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Mergulhe fundo

Eu vou, você vem ?
Chucho (Jesús Díaz em Poluto Mundo)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Seu pensamento

A uma hora dessas
por onde estará seu pensamento
Terá os pés na terra
ou vento no cabelo?
A uma hora dessas
por onde andará seu pensamento
Dará voltas na Terra
ou no estacionamento?
Onde longe Londres Lisboa
ou na minha cama?
A uma hora dessas
por onde vagará seu pensamento
Terá os pés na areia
em pleno apartamento?
A uma hora dessas
por onde passará seu pensamento
Por dentro da minha saia
ou pelo firmamento?
Onde longe Leme Luanda
ou na minha cama?


Música de Adriana Calcanhoto

Força e fé

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.
Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.
São Jorge Rogai por Nós.

Texto: oração de São Jorge
Foto e escultura: Carlos Chan

em 6 partes


segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Cachórros

Um cachorro velho, rabugento, que late tentando cumprir sua função de guarda, nada mais nada menos que do Templo de Zeus, em Atenas. (ai que chique bem!)
O único que latia com tanto afinco, e o mais véin. Os dentinhos pra fora, provavelmente molinhos, e nem devem aguentar morder mais nada... nem as próprias pulgas. Mas ele tá lá, firme e forte, cumprindo a missão que lhe foi dignamente designada... proteger o templo do maior deus da mitologia!
Bicho esperto. Ele deve saber que lá de cima Zeus tá de olho em tudo. E os outros que se entendam lá com Ele depois, rs.

Queria morar mais perto

Hoje só quero dizer isso mesmo: que eu queria morar mais perto. Moro longe de tudo que preciso fazer, de tudo que a vida tá me trazendo.
Amo minha cidade, mas a única coisa que tem realmente crescido por aqui é a população, e o trânsito. Ah, mentira, lembrei duma coisa que vi crescer muito hoje: as poças d'água com a chuva que caiu. E não veio sozinha, com ela trouxe o transito... puta merda! Queria morar mais perto!


sábado, 22 de novembro de 2008

natureza morta





Composição:
Café da manha no Sana.

Relatos

Começei a dar aula de artes há um mês numa escola particular. Mês de novembro. A coordenadora pediu que eu trabalhasse nesse mês o tema da Coinsciencia Negra, e eu logo me empolguei.
Na primeira aula, enquanto as crianças procuravam para recortar das revistas negros brasileiros à meu pedido, uma aluna, uma menina negra, me mostrou a figura de um macaco como se fosse uma pessoa negra. Eu não tive reação, não esperava ouvir isso logo na minha primeira aula, inda mais de uma menina negra! Simplesmente fiz cara de repreensão, e disse que era muito feio o que ela tava dizendo.
Duas semanas depois, essa mesma menina negra (que deve ter 6 anos, pois está no segundo ano do fundamental) virou pra mim no começo da aula, antes mesmo de eu ter passado a proposta daquele dia, e falou "tia, não quero mais desenhar gente negra não", e eu perguntei porque. Ela disse que não sabe desenhar "gente negra", só "gente branca"e eu disse que era a mesma coisa. E pra completar eu disse pra ela que ela é negra, e ela disse " Não tia, eu sou morena", mas eu insisti, disse que não, que ela é negra. E nisso ela começou a perguntar se os outros amiguinhos da sala, inclusive eu, e da professora da turma, que é branca de olhos azuis quem é negro.
Sobre mim disse que sou morena, mas que tô quase lá. Minha pele não é tão escura, e o sangue é bem misturado (como todos por aqui). Mas a alma...! Não posso ouvir um batuque que o sangue já ferve! ai ai ai Sim, no Brasil somos todos mistura, disso todo mundo sabe. O que nem sempre é sabido, é que esse mesmo povo "misturado" tem preconceito contra si próprio. Tem vergonha de dizer que é negro, por que ser negro é sinonimo de uma coisa ruim. O negro é mal visto, e ninguém quer ser mal visto, né. Todo mundo quer ser aceito.

Com essas aulas aprendi mais que ensinei, e agora me sinto mais preparada para no ano que vem fazer um trabalho mais profundo, não só no mês de novembro, mas todos os dias.

Evento p quem gosta de palhaçaria

Vem aí o " Anjos do Picadeiro", em sua sétima edição, eu estarei lá, com certeza, cercando de todas as maneiras possíveis! Para quem não conhece, este é um encontro internacional de palhaços, que acontece desde 1996, e tem como origem o grupo Teatro de Anônimo.
Confira a programaçao >>>>http://www.anjosdopicadeiro.com.br/

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Filo-sofia


"A maturidade do homem consiste em recuperar a seriedade
com a qual brincava quando era criança"

Friedrich Nietzche

Isso então quer dizer que já sou madura??? êeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

PROCURA-SE


Procura-se O Menino Marrom, livro do Ziraldo, aparentemente raro, pois tenho procurado há dias, e parece que o destino está dificultando. Agradecerei imensamente à São Longuinho assim que encontrá-lo, dando muitos pulinhos, ou à quem puder me dar alguma pista de onde está este menino.
Será ele um menino travesso brincando de esconder?

DOUTORES DA ALEGRIA EM EVENTO ESSE FINDI NO SESC COPA

Que Palhaçada é Essa?! Rio de Janeiro - 15/11/2008


SÁBADO - 15/1114h - Abertura do Evento, Exposição e Ambulatório de Besteirologia.

14:30h - Doutores da Alegria contam causos

15:30h - Lançamento do Caderno Boca Larfa IV


17h - Apresentação de "Troca de Plantão - .


Eu fui, quem não foi PERDEU, foi mto bom!




site do Drs.:http://www.doutoresdaalegria.org.br/internas.asp?secao=newsletter&id=258

SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA E CENTENÁRIO DA UMBANDA


"QUEBRE SUAS CORRENTES E VOCÊ SERA LIVRE,
CORTE SUAS RAÍZES E VOCÊ MORRE."
(provérbio africano)

A CEPPIR-Nit realizará vários eventos no mês de novembro em comemoração a SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA e ao CENTENÁRIO DA UMBANDA. Estes farão parte, ainda das festividades do aniversário de Niterói:

14/11 - HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DA UMBANDA - Câmara Municipal de Niterói
- a partir das 17h - Entrega de Moção - Cânticos, rufar de tambores e homenagens 19/11 - III ENCONTRO DE SAÚDE NO AXÉ DE NITERÓI - Teatro Popular de Niterói - a partir das 15h - Dança afro + DEBATE + olodumaré + cooquetel

Composição da mesa:

Secretaria Estadual de Saúde
Secretaria Municipal de Saúde
Representante da Mulher no Axé
Representante da Ong Criola
Representante Projeto Quilombo
Representante da Rede Nacional de Matriz Africana e Saúde
Representante da Câmara de Deputados
Representante da Federação Brasileira de Umbanda
Representante do Ministério de Saúde

20/11 - NITERÓI FESTEJA ZUMBI - Teatro Popular de Niterói - a partir das 14h:

- Barracas, shows de hip hop, jongo, capoeira, maracatu e roda de samba 21/11 - DEBATE: CONSCIÊNCIA NEGRA: APRENDER NA DIVERSIDADE - Teatro Popular de Niterói - a partir das 16h30min - dança afro, debate, exibição de filmes: Mestre Darcy e "As filhas do Vento"

Composição da mesa:

- Profª Doutora Denise Barata (Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana - UERJ)
- Profº senegalês Amadou Abdolaye Diop (Mestre em comunicação UFMG e doutorando em literatura comparada)
- Jorge Pereira da Silva - Coord Ceppir-Nit
- Profº Wagner Ramos Pereira - Direitos Humanos/Cândido Mendes- Profº André Diniz da Silva - Historiador, escritor e Vereador (Pres. da Comissão de Educação e Cultura da Câmara Municipal de Niterói)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Mês da Coinsciência Negra- Você já ouviu falar em Chico-Rei?

Vindo do Reino do Congo com sua mulher, seu filho e seu povo para as minas de ouro da antiga Vila Rica, um rei africano chamado Galanga é transformado em escravo e batizado como Francisco. No caminho para o Brasil sua mulher, a rainha Djalo é jogada no mar junto com dezenas de negras para diminuir o peso da embarcação perante as tempestades freqüentes. Comprado dos traficantes pelo dono da mina de ouro Encardideira que tinha diversas dívidas com a corte portuguesa, Galanga agora chamado de Chico (como todos os negros da época) tem na busca pelo ouro a única forma de alcançar sua alforria de forma legal segundo as leis da época. Nessa negociação ele se separa de seu filho Muzinga, que futuramente fugiria para um quilombo.Chico Rei com a ajuda de Santa Ifigênia que o guiava na busca pelo ouro alcança grande êxito e conquista sua carta de alforria. Em liberdade se une a Irmandade do Rosário formada por negros forros da cidade de Ouro Preto antiga.Mas seu antigo patrão continua endividado com Portugal e sofrerepresálias do governador da província. Chico Rei, junto à irmandade do Rosário sugere assumir as dívidas e comprar a mina Encardideira. Seu patrão já cansado e num ato de vingança contra o governador vende a mina e concede a oportunidade de Chico Rei ser o primeiro africano dono de mina de ouro no Brasil.Chico Rei inicia o trabalho duro na Mina e passa a comprar a alforria de seu povo, e de africanos escravos que passam a trabalhar na minas da Encardideira e na roça daquela propriedade até que em um carregamento de ouro para Portugal é descoberto com pedras de outro metal ao invés de ouro. O governador de Vila Rica já avesso ao rei africano dono de mina coloca a culpa em Chico Rei e o prende. O povo da época se rebela e força o governador a libertar o antigo rei do congo. Liberto, Chico Rei da seqüência ao trabalho junto a seu povo construindo a igreja de Santa Ifigênia que existe até hoje. Dizem que na comunidade de Chico Rei é atribuída uma das origens dos festejos da Congada Mineira.


Berimbau, pintura de Debret

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"A idéia do rei foi genial
Esconder o pó de ouro entre os cabelos
Assim fez seu pessoal
Todas as noites quando das minas regressavam
Iam à igreja e suas cabeças banhavam
Era o ouro depositado na pia
E guardado em outro lugar com garantia
Até completar a importância
Para comprar suas alforrias
Foram libertos cada um por sua vez
E assim foi que o rei
Sob o sol da liberdade trabalhou
E um pouco de terra ele comprou
Descobrindo ouro enriqueceu
Escolheu o nome de Francisco
E ao catolicismo se converteu
No ponto mais alto da cidade,
Chico Rei
Com seu espírito de luz
Mandou construir uma igreja
E a denominou
Santa Ifigênia do Alto da Cruz”.

Geraldo Babão, Djalma Sabiá e Binha
Trecho do enredo do Salgueiro, 1964

Pera, uva ou maçã?

Rói as unhas no momento em que abro a porta, a bolsa comprimida contra os seios. Como sempre, penso, ao deixá-la passar, cabeça baixa, para sentar-se no mesmo lugar, segundas e quintas, dezessete horas: como sempre. Fecho a porta, caminho até a poltrona à sua frente, sento, cruzo as pernas, tendo antes o cuidado de suspender as calças para que não se formem aquelas desagradáveis bolsas nos joelhos. Espero algum tempo. Ela não diz nada. Parece olhar fixamente as minhas meias. Tiro devagar os cigarros do bolso esquerdo do paletó, apanho um com a ponta dos dedos, sem tirar o maço do bolso, e fico batendo o filtro no braço da poltrona enquanto procuro o isqueiro no bolso pequeno da calça. Antes de acendê-lo, penso mais uma vez que não deveria usar esses isqueiros plásticos descartáveis. Alguém me disse que não-são-degradáveis. Não consigo lembrar quem, quando, nem onde ou por quê. Rodo o isqueiro maligno entre os dedos, depois acendo o cigarro. Então ela diz:
- Desculpe, mas acho que você está com as meias trocadas.
Geralmente um cigarro dura entre cinco e dez minutos. Como eu, para tranqüilizá-la, tento gastar o máximo de tempo possível fazendo coisas como fechar a porta, puxar as calças, pensar em isqueiros e ecologias, quase sempre ela fala somente quando termino o primeiro cigarro. Quase sempre depois que pergunto, com extremo cuidado, no que está pensando. Só então ela suspira, ergue os olhos, me olha de frente. Desta vez, porém, não suspira ao falar nas meias. Penso em dizer que acordei um pouco tarde demais, razoavelmente atrasado, e que. Mas prefiro perguntar lento:
- E isso te incomoda?
Ela contrai os ombros, de maneira que sobem até quase a altura das orelhas. Depois solta-os devagar, curvando-os para trás, convexos, como se fizesse uma massagem em si mesma:
- Não é que incomode, só que. Olha, para falar a verdade eu não me importo nem um pouco com as suas meias.
Solta a última frase rápido demais, como se estivesse querendo se ver logo livre dela, e fica à espera para ver o que digo. Mas eu não digo coisa alguma. Limito-me a dar outra tragada no cigarro, batendo a cinza no cinzeiro italiano trazido de Milão. Arrumo os óculos sobre o nariz, estes aros estilo nouvelle-vague precisam ser ajustados, sempre escorregando. Alguma cinza cai sobre minhas calças. Molho o indicador e o polegar para apanhá-la sem que se esfarele, jogo-a no cinzeiro. Ela espera. Olho fixamente para ela. Ela olha fixamente para mim, depois baixa os olhos enquanto seus ombros também tornam a subir e novamente a baixar. Quando chegam ao lugar normal, ela torna a erguer os olhos. Eu continuo esperando. Resolvo ajudá-la, pausado:
- Quer dizer então que você não se importa nem um pouco com as minhas meias?
Ela abre a boca sem falar.
- Não foi o que você disse?
Ela suspira. Estica as pernas, cruza os braços impaciente:
- Foi, foi. Mas o que eu quero mesmo dizer é que hoje não estou disposta a gastar. Gastar não, passar. Não se sinta agredido, não é isso. O que acontece é que. Eu não estou disposta a passar. Eu, eu aposto nas ameixas.
Sem entender, espero. Ela também tira um cigarro da bolsa. Remexe algum tempo, procurando fogo. Chego a estender meu isqueiro não degradável, mas ela já encontrou uma caixa de fósforos. Acende, sacode a chama no ar decidida:
- Escuta, hoje eu não estou disposta a passar aqui uma dessas suas horas de quarenta e cinco minutos discutindo as razões sub ou inconscientes de por que eu disse que você está com as meias trocadas, certo?
Eu bato o cigarro no cinzeiro.
- É que aconteceu uma coisa.
Eu descruzo as pernas.
- Uma coisa muito importante.
Eu olho o relógio suíço, passaram-se quinze minutos. Volto a encará-la, esperando que continue a falar. Não continua, mas olha fixo para mim, as faces coradas, olhar brilhante como se tivesse um pouco de febre. Espero um pouco mais. Agora que estou com as pernas descruzadas, basta estendê-las para ver a cor das meias. Chego a ficar tão curioso que faço um pequeno movimento para a frente. Talvez a bordô com friso branco, e a xadrez de preto e vermelho? A cinza do cigarro torna a cair sobre as calças, mas desta vez não é necessário molhar o indicador e o polegar para levá-la ao cinzeiro. Basta uma leve sacudidela para que caia sobre o tapete. Quando torno a olhar para ela seus olhos brilham tanto que, mais uma vez, tento ajudá-la. Calmo:
- Mas que coisa tão importante assim foi essa que te aconteceu?
Ela baixa a cabeça, murmura alguma coisa para si mesma em voz tão baixa que não consigo ouvir uma palavra.
- Como foi que você disse?
Ela apaga o cigarro, tensa:
- Quando vinha vindo para cá tropecei num caixão de defunto.
Se eu trouxesse muito lentamente uma das pernas até o lado direito da poltrona, dobrando um pouco o joelho, conseguiria ver a cor pelo menos de uma das meias. Mas ela continua:
- Quando dobrei a rua, daquele sobrado amarelo da esquina ia saindo um enterro. -Tira outro cigarro da bolsa. - Não, não foi assim. Antes, eu tinha comprado um quilo de ameixas. - Por um momento fica com dois cigarros nas mãos, um aceso, outro apagado. Depois acende um no outro. - Também não foi assim. Antes, ontem, eu dormi até quase as três horas da tarde de hoje. Então minha mãe me chamou para vir aqui.
Pára de falar, faz uma careta. Fico sem entender, até que ela apague o cigarro.
- Acendi o filtro, que merda.
Ela nunca disse um palavrão antes, penso.
- Escute.
Talvez a verde-musgo com losangos cinzentos? E no outro pé a cinza com debruns vermelhos?
- Eu vinha vindo para cá. Eu vinha vindo meio tonta, como sempre fico, assim meio tonta, meio aérea quando durmo tanto. E nem durmo, é mais uma coisa que parece assim. Que nem, sei lá. Foi numa dessas barraquinhas de frutas que eu vi. Eu vinha de cabeça baixa, umas ameixas tão vermelhas. Eu vinha pensando numa porção de coisas quando.
- Que coisas?
- Que coisas o quê?
- As que você vinha pensando.
- Ah.
Ela acende outro cigarro. Do lado certo. E fala soltando a fumaça:
- Sei lá, que eu ando. Muito triste. Uma merda, tudo isso. Mas não importa, não me interrompa agora. Deixa eu falar, por favor, deixa eu falar. Tem uma coisa dentro de mim que continua dormindo quando eu acordo, lá longe de mim. - Traga fundo. E solta a fumaça quase sem respirar. - Foi então que vi aquelas ameixas e achei tão bonitas e tão vermelhas que pedi um quilo e era minha última grana certo porque meus pais não me dão nada e daí eu pensei assim se comprar essas ameixas agora vou ter que voltar a pé para casa mas que importa volto a pé mesmo pode ser até que acorde um pouco e aquela coisa lá longe volte pra perto de mim e então eu vinha caminhando devagarinho as ameixas eu não conseguia parar de comer sabe já tinha comido acho que umas seis estava toda melada quando dobrei a esquina aqui da rua e ia saindo um caixão de defunto do sobrado amarelo na esquina certo acho que era um caixão cheio quer dizer com defunto dentro porque ia saindo e não entrando certo e foi bem na hora que eu dobrei não deu tempo de parar nem de desviar daí então eu tropecei no caixão e as ameixas todas caíram assim paf! na calçada e foi aí que eu reparei naquelas pessoas todas de preto e óculos escuros e lenços no nariz e uma porrada de coroas de flores devia ser um defunto muito rico certo e aquele carro fúnebre ali parado e só aí eu entendi que era um velório. Quer dizer, um enterro. O velório é antes, certo?
- É - confirmo. - O velório é antes.
- Ficou todo mundo parado, me olhando. Eu me abaixei e comecei a catar as ameixas na sarjeta. Eu não estava me importando que fosse um enterro e que tudo tivesse parado só por minha causa, certo? Apanhei uma por uma. Só depois que tinha guardado todas de volta no pacote é que as coisas começaram a se mexer de novo. Eu continuei vindo para cá, as pessoas continuaram carregando o caixão para o carro fúnebre. Mas primeiro ficou assim um minuto tudo parado, como uma fotografia, como quando você congela a cena no vídeo. Eu juntando as ameixas e aquelas pessoas todas ali paradas me olhando. Você está prestando atenção? Aquelas pessoas todas paradas me olhando e eu ali juntando as ameixas.
Ela pára de falar, fica olhando para mim. Depois repete:
- Me olhando, as pessoas. Eu, juntando as ameixas.
Ela apaga o cigarro. Olho o relógio, faltam quinze minutos. Acendo outro cigarro. Através da fumaça percebo que ela toca com cuidado alguma coisa dentro da bolsa, sem abri-la, por sobre o couro. Imagino que vá tirar mais um cigarro, mas ela nem chega a abrir a bolsa. Apenas toca nesse objeto no interior, distraída, com as pontas dos dedos de unhas roídas. Tão distante que preciso trazê-la de volta, firme:
- No que é que você está pensando?
Ela ri. Ela nunca riu antes, penso.
- Numa brincadeira besta que a gente tinha quando eu era mais guria. Aquela coisa de reunião dançante, cuba-libre, você sabe. - Tira o objeto de dentro da bolsa, mas permanece com ele fechado dentro da mão. - Faz tanto tempo que eu não bebo, tanto tempo que eu não danço. Tanto tempo, meu Deus, que eu não brinco. Será que ainda existe reunião dançante? E cuba-libre, será que existe? E aquela brincadeira, será que alguém ainda brinca? - Olha para mim. Imagino que o objeto em suas mãos deva ser uma caixa de fósforos. - Era meio sacana, mas uma sacanagem boba, meio juvenil, era assim. Uma pessoa tapa os olhos da gente com um lenço, depois aponta para outra pessoa e pergunta se você quer pêra, uva ou maçã. Pêra é um aperto de mão. Uva, um abraço. Maçã é um beijo na boca. - Ri de novo. E me olha enviesada. - Só que a gente dá um jeitinho de falar com a pessoa que pergunta e daí, quando ela aponta alguém que a gente tá a fim, dá um puxão disfarçado no lenço. Então a gente pede: maçã. - Enquanto fala, percebo que esfrega suavemente aquele objeto contra a blusa, sobre os seios. Sorri mais ao dizer: - Foi a primeira vez que eu beijei de língua.
Agora seus ombros estão um tanto baixos demais, quase curvos, côncavos. Os olhos brilham menos, começam a ficar meio enevoados. Acho que vai chorar, procuro com os olhos a caixa de lenços de papel. E que mais, penso em perguntar. Então ela endireita o corpo:
- Quanto tempo ainda falta?
Olho o relógio:
- Cinco minutos.
- Faltam cinco minutos, já no existem mais palavras - ela cantarola desafinada, com uma entonação que me parece irônica. - Tem uma música assim, não tem? Ou acabei de inventar, sei lá.
Continua a esfregar aquele objeto contra a blusa. O que será, penso sem interesse. Ela torna a olhar para as minhas meias. Talvez uma inteiramente branca, outra azul, listradinha de preto?
- Olha, antes de ir embora eu quero dizer a você que aposto nas ameixas. Foi isso que me veio na cabeça depois que saí caminhando. E quando entrei aqui no edifício, de costas para o enterro, o tempo todo, sem olhar para trás, no elevador, na sala de espera, quando entrei e sentei aqui, o tempo todo. - Os olhos brilham mais. Nunca ela me olhou tanto tempo de frente, antes. - Eu quero, certo? Eu preciso continuar apostando nas ameixas. Não sei se devo, também não sei se posso, se é. Permitido? Sei lá, acho que também não sei o que é dever ou poder, mas agora estou sabendo de um jeito muito claro o que é precisar, certo? E quando a gente precisa, não importa que seja proibido. Querer? - Interrompe-se como se eu tivesse feito uma pergunta. Mas eu não disse nada. - Querer a gente inventa.
Eu apago o cigarro. E bocejo sem querer.
- Ou não - ela diz levantando-se. Ela nunca levantou sem que eu dissesse bem-por-hoje-é-só, antes.
Eu levanto também, sem ter planejado. Isso nunca me aconteceu antes. Ela continua esfregando o objeto contra a blusa. Só quando interrompe o gesto, a mão estendida para mim, é que percebo. Trata-se de uma ameixa. Madura, cor de vinho tinto. De sangue, talvez. Ela caminha até a mesa, coloca-a sobre a agenda ao lado do telefone.
- Isto é para você.
- Obrigado - eu digo sem querer.
Ela arruma os cabelos com os dedos antes de sair.
- Feliz ano novo - diz, batendo a porta. Os olhos cintilam.
Mas estamos recém em setembro, penso em dizer. Apenas penso, ela já fechou a porta atrás de si. Torno a abri-la, mas não há mais ninguém na sala de espera além da secretária lixando as unhas. Fecho a porta outra vez e há um momento em que fico parado, ouvindo o barulho do relógio em contraponto com o ar-condicionado. Depois caminho até minha mesa. Toco a ameixa. A cor de sangue, de vinho, parece refletir-se na superfície polida das minhas unhas. É tão lustrosa que brilha, a casca estufada quase arrebentando pela pressão interna da polpa madura, que imagino amarela, sumarenta, estalando contra os dentes. Deixo a ameixa de lado e pego a agenda embaixo dela. Resolvo telefonar para seus pais, aconselhando que a internem novamente. Mas antes preciso ver a cor das minhas meias. Quem sabe a lilás, com pespontos azulmarinho? Os óculos tornam a escorregar para a ponta do nariz. Talvez a amarelinha de listras brancas? Não há tempo. A secretária começa a bater na porta, chegou o próximo cliente.

PÊRA, UVA OU MAÇÃ? Para Celso Curi, de Caio Fernando Abreu, em Morangos Mofados


Adoro Caio Fernando, Morangos Mofados é o livro da minha vida. Digo isso, porque nunca tinha lido alguém com quem me identificasse tanto, antes do Caio. Um tom irônico, inteligente e cruelmente real. Existe, para mim, o antes e o depois do Caio.
Esse conto é especial pra mim pelo assunto que fala. Poder, sanidade, visão sobre as coisas. Como nossos pensamentos podem ser estranhos a quem não os compartilha? Isso significa estarmos loucos ou errados? O que é certo e o que é errado? Quais são os parâmetros para se medir a loucura? Quem é o louco???
Me parece que o conhecimento desensibiliza algumas pessoas.

Não estamos falando apenas de um conto, certo?
A literatura pode modificar o homem. As ameixas podem mudar o dia.
Eu insisto nas ameixas e no ano que se poder renovar a cada dia.


Casas, apartamentos e aluguéis

Do outro lado da linha, ela riu. Pelo som, ele adivinhou que ela ria sem abrir a boca, apenas os ombros sacudindo, movendo a cabeça para os lados, alguns fios de cabelo caídos nos olhos.
- Não estou te alugando? - ela perguntou. - Você sempre diz que eu te alugo. Como se você fosse um imóvel, uma casa. Eu, se fosse uma casa, queria uma piscina nos fundos. Um jardim enorme. E ar condicionado. Que tipo de casa você queria ser, Lui?
- Eu não queria ser casa.
- Como?
- Queria ser um apartamento.
- Sei, mas que tipo?
Ele suspirou:
- Uma quitinete. Sem telefone.

Pela Passagem duma grande dor, Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Pra rir! (Já vi, e recomendo)


para saber mais sobre as Marias:http://www.asmariasdagraca.com.br/index3.html

"As Marias da Graça ganharam seus narizes vermelhos em Julho de 1991 e resolveram formar um grupo de mulheres palhaças, algo totalmente novo no país. São mulheres que trabalham o riso e escolheram a arte da palhaça para expressar o cotidiano feminino. Interferem assim, na visão tradicional deste universo artístico. "

Foi com as Marias que descobri o meu nariz, e passei a ver a vida com olhos mais cômicos, de uma forma mais leve. Além de excelentes palhaças, são também excelentes professoras. Daquelas que ensinam toda a sua arte sem medo. Sem enrustir seus conhecimentos, por que confiam no seu potencial. Sabem que há espaço para todos, e por isso são capazes de dividir.
Essas mulheres mudaram minha vida.
Assistam, eu recomendo.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

minha primeira aula

Ouvi as crianças me chamando de tia, eu que só era chamada assim por uma, de repente passei a ouvir isso de mais umas cem... e a sensação foi boa.

desenho de um dos pequenos, cultura afro-brasileira: maracatú e capoeira

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

terça-feira, 28 de outubro de 2008

casa do vovô


Ataualpa é o nome dele, meu vovô.
Muita saudade, muitas boas lembranças dessa casa.
Ele me chamava de jararaca, abaixado com os braços abertos gritava " Cadê a jararaca do vovô?", e eu ingênua corria feliz pros braços dele.
Eu brincava na terra, com as panelas da cozinha dele, brincava de fazer nescau misturando a terra vermelha com água. Chupava cana, tomava também o caldo que ele espremia com a máquina que tinha no quintal. Comia ( e ainda como) laranja com shoyo, coisa que ele me ensinou. Puxava os gatos pelo rabo, querendo que brincassem comigo. Fazia brinquedinhos pros gatos com caixas de -fósforo, barbante e chapinha de refrigerante. Levava-os pro banheiro quando ia tomar banho, não querendo desgrudar dos bichanos, que miavam desesperadamente com o som da água. Eles tinham nomes estranhos; Piano, Pimpinela, Motoca. Hoje se refelte na escolhas dos meus; Kaiser,Sapinha, Bolota, Tortinho, Magrela, Colombina.
Tomava banho na caixa d'água, que ainda cabia a irmã e a prima.
Ele usava chapéu de palha, e tamém um chapéu de pano que hoje está no armário da minha irmã. As paredes da casa eram em madeira, e o quarto dos fundos no verão, dava muita barata, e eu morria de medo de levantar pra ir no banheiro no meio da noite. Eu comia feijão marrom.
O chão da entrada da casa era feito de azulejos coloridos, e o quintal tinha seriguela. Tinha também uma marcenaria, com muita tralha, muito resto de madeira, e sabe-se lá mais o que. E era pra lá que os gatos fugiam desesperados com nossas mãozinhas querendo agarrá-los.
Tinha tubaína, e no Natal a família toda se juntava na casa da tia. A gente cantava e trocava presentes. Era muita gente junta. Meu avô teve sete filhos, e um deles mais sete. Família grande, que ele unia. Quando ele se foi, se não me falha a memória, acabaram-se as festas grandes.
Ainda me refugio no colo dele, e ele ainda me conforta com as frutinhas do quintal.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

quando eu tava lendo Picasso


Lagrimas de oro







Tú no tienes la culpa mi amor
Que el mundo sea tan feo
Tú no tienes la culpa mi amor
De tanto tiroteo
Vas por la calle llorando
Lágrimas de oro
Vas por la calle brotando
Lágrimas de oro
Tú no tienes la culpa mi amor
De tanto cachondeo
Tú no tienes la culpa mi amor
Vámonos de jaleo
Ahí por la calle llorando
Lágrimas de oro
Ahí por la calle brotando
Lágrimas de oro
Llegó el cancodrilo y Super Chango
Y toda la vaina de Maracaibo
En este mundo hay mucha confusión
Suenan los tambores de la rebelión
Suena mi pueblo suena la razón
Suena el guaguancon
tú no tienes la culpa mi amor
Lágrimas de oro...


Manu Chau


Desencontro


Às vezes é no desencontro
que as almas se revelam
quando se ferem se lanham
com palavras lágrimas e insultos
e só lhes resta o assombro.

Bem que gostaríamos
que fosse ameno doce ou luminoso
o encontro mas é no desencontro
que às vezes as almas se revelam
quando ásperas e agressivas
se tocam no mais fundo
e perplexas se contemplam
como se contempla
- o intransponível abismo.

Affonso Romano de Sant'Anna

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

angú(stias)

Que tipo de professora serei eu?
Isso me aflige quando lembro de professores que tive.

Alguns fizeram uma grande diferença, somaram muito em minha vida, na minha formação como pessoa, nas minhas escolhas. Outros fizeram com que eu criasse monstros que ainda hoje me atormentam. É preciso ter muito cuidado, cuidado com as palavras ditas, com as críticas, com os conceitos passados, como autoritarismo.

Sei que não estou livre de me tornar um destes monstros, mas prometo me esforçar para estar atenta a isso. Atenta ao expressar meus pensamentos, e atenta ao cuidado que se deve ter com as palavras ditas.
É preciso pensar na relatividade das coisas, no que para mim "é", mas para outros "não é". Não impor a opinião, não impor o ponto de vista. Incentivar a criar, a perceber, a expressar. Instigar coisas positivas. Apresentar-lhes grandes seres humanos.

Eu não quero ensinar a copiar, por que isso a gente aprende até sozinho. Eu quero inspirar, instigar. Isso não quer dizer que vou conseguir, não tenho a pretensão de formar artistas, e sim formar seres humanos, espremer sentimentos, exprimir sentimentos. Fazer com que os tragam pra fora.
Não quero ser mais um, quero somar, fazer a diferença.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Estou dizendo para esta lagartixa



Estou dizendo para esta lagartixa
na parede do meu quarto
que o século vai acabar
mas ela não me olha
nem me entende.

Já tentei falar com a formiga
com a aranha
fui ao limoeiro da horta
e ninguem liga.

Olho os objetos da sala
minhas coisas no escritório (os óculos)
e no quarto (os sapatos).

Todos indiferentes

Não estão em pânico
não devem nada
e não tem planos.

O tempo é mesmo
uma doença humana.


Affonso Romano de Sant'Anna

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Eu apenas queria que você soubesse

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queira que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida...

Gonzaguinha

Em respeito à Paulo Freire

Dia 15 de Outubro, dia dos professores.
Por coincidência o livro que leio agora é "Pedagogia da indignação", de Paulo Freire. Me peguei pensando nele, como quem tem saudade. Lembrei-me então de um e-mail que recebi pouco tempo atrás, e agora transcrevo-o aqui, numa pequena homenagem.


Na edição de 20 de Agosto a revista Veja publicou a reportagem O que estão ensinando a ele? De autoria de Monica Weinberg e Camila Pereira, ela foi baseada em pesquisa sobre qualidade do ensino no Brasil. Entre as linhas da reportagem podemos encontrar isso:

"Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização[ ...]

Em resposta ao lixo escrito acima, Nita, viúva de Paulo Freire, publicou a seguinte carta de repúdio:

"Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista...Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do “filósofo” e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu “Norte” e “Bíblia”, esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!São Paulo, 11 de setembro de 2008Ana Maria Araújo Freire".

* a carta de repudio pode ser encontrada no Blog do jornalista Luis Carlos Azenha:
http://www.viomundo .com.br/voce- escreve/viuva- de-paulo- freire-escreve- carta-de- repudio-a- revista-veja/

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Preto velho


Aquele preto
Tão preto

Com aquela barba branca,
Tão preta

E aquele olhar tão meigo
De quem espera ganhar
Um sorriso incolor

Secos e Molhados

There is no place like home

Me graduei em Escultura, pela UFRJ, em 2007. Em meu projeto final realizei uma performance, que resultou um vídeo. Para fazê-los tive ajuda de amigos, companheiros, que me apoiaram, ajudaram com seus braços, pernas, mentes, horas, dias... Todos foram essenciais para que ele se concretizasse. Agradeço imensamente à todos eles, os "aristas muito colaboradores", por terem ajudado a realizar esse projeto, que foi tão importante quanto a própria "casa" que tanto busco.

À Tati pela ajuda virtual, mesmo à distância, via msn, me deu a retaguarda da roupa, o modelo, que cor, que gola, o desenho, que tecido, que tinta, e até os finalmentes da costura, quando tive a sorte de poder tê-la ao meu lado.

À Carol Valansi pela direção de cena, pelo incentivo, pelo encorajamento e (tentativa de) libertação do meu braço duro, pela filmagem, pelas horas investidas no meu projeto, e é claro, por todas as conversas enriquecedoras, e por seu lindo olhar atrás das lentes.

À Isabela Roriz e Thaíza Duarte, pela ajuda nas filmagens, pelas dicas, olhares e conversas, e ainda, Bela, obrigada pela câmera, sem ela nada disso seria registrado.

À Clarice Levy, pela música feita especialmente pra mim e pro trabalho, feitas sob inspiração Divina, com certeza. Sem sua música não sei o que seria da minha angústia!

Ao Marcelo Figueiredo, que ficou noites sem dormir (junto comigo e Thaíza), com todo detalhismo e perfeccionismo que fizeram da edição a chave de ouro pra fechar o projeto.

Ao Bruno Jacomino, meu amor e companheiro, que esteve comigo durante todo o processo, desde o nascimento à realização do trabalho, sempre me aturando e apoiando, e ainda participando ativamente das filmagens.

À Simone Michelin, minha Orientadora (com O maísculo), grande professora e artista, que acreditou e incentivou meu projeto, me dando linhas de direção certeiras com sua sensível percepção.

E à Deus, é claro, que colocou todas essas almas no meu caminho, me ajudando a andar mais firmemente por ele.
Obrigada!
(assistam o vídeo, ele está na lateral da página)